segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Não há flores

Sei lá... Minha vida tem sido assim de lá pra cá. Lá? Minha última postagem, talvez. Começo a escrever por me sentir sozinho, vazio, oco. Passei tempo demais afastado daqui e deixa a tona quanto tempo passei afastado de mim. As pessoas mudam, é fato. Mas será que tanto? Você para e se pergunta o que restou de épocas boas e não encontra muita coisa. Continua sobrevivendo e caminhando.. Caminhando? Pra onde? Não sei, sinceramente. Um dos meus maiores problemas atuais é não saber pra onde estou me guiando. Vou perdendo tudo nessa onda louca de viver e acabo fazendo o contrário do que um dia eu achei que era viver.

Não tem símbolo maior pra mim de sentir-se só do que escrever nesse pequeno relicário, abandonado e amarelado. Geralmente é um lugar que eu posso me abrir totalmente, tirar toda maquilagem do dia-a-dia e conversar comigo. Fazia-me melhor, agora nem tanto.

Parei pra ler últimas postagens e piorei. Eu era alguém... pelo menos um projeto de alguém. Estudava, criava, lia, escrevia, musicava, programa, amava, procurava. Perdi todos esses verbos no decorrer da minha queda. Definitivamente quando você chega a um pseudo-topo dentro dos seus planos, muita gente aparece e te suga, hoje tenho essa percepção, antigamente só uma ideia que entrava e saía na mesma velocidade da minha cabeça.

Como o poeta, "tenho andado distraído, paciente e indeciso". Tenho andado perdido. Talvez eu volte a escrever por aqui rotineiramente, afinal, é onde eu posso conversar, o lugar que eu tenho pra escoar tanta energia negativa vinda de dentro de mim. Calma! Essa energia negativa não te afetará, leitor. Afinal, o leitor sou eu mesmo. Ninguém lerá (alias, esse é um dos motivos que eu escrevo aqui, na esperança de que ninguém lerá, mesmo que esteja aí, aberto ao mundo).

Definitivamente perdi o jeito pra escrita, não que eu tenha tido real talento alguma vez na vida. Perdi o jeito na escrita da vida também. No dia-a-dia, comecei errando os acentos, coitados. Era cada um que eu deixava passar. Alguns meses depois errei as "concordância" - "as concordância? Estás errado, Samu!" - alguém me disse e logo remendei um garranchudo "s" no final. Dava pra ver que aquele "s" foi injetado ali, não fazia parte. De repente eu pulava palavras inteiras, os fonemas não saíam bem, as frases perderam sentido (ou nunca tiveram?). Anos depois o texto morreu, rasgou-se, obliterou-se.

Hoje sou umas sílabas no meio do caminho, sob "liquid paper" no texto de vários autores por aí. Queria ter um desses e corrigir meus garranchos, de repente eu topava com parte do fio da meada que eu perdi quando comecei a me analfabetizar.

"Depois do inverno é a vida em cores [...], nossa temporada das flores".

Dessa vez não terá cor, temporada, nem flores.

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